Luz, Consolação, o escultor Del Favero, Jesuítas em Embu e no Pátio do Colégio, Cemitério da Consolação, N.S. da Paz no Glicério, Imaculada Conceiçao em Higienópolis - trechos de artigos inéditos do IV SIPS!
forro do coro da Luz, foto de Vitor Hugo Mori
Igreja e coro do
Mosteiro da Luz
Maria
Lucia Bighetti Fioravanti
O coro das irmãs faz parte do recinto onde está localizada a
clausura, e é de difícil acesso ao público.
É um recinto amplo de forma retangular, com os dois lados
retilíneos menores medindo 7,10 m, sendo que um deles está voltado para a
Igreja e está vedado por uma treliça, e o outro está voltado para o exterior, cuja parede possui três
janelas embaixo e um óculo na parte superior. Os dois lados maiores medem 12,5
m e possuem apenas uma porta em cada um.
O teto foi construído com tábuas de aproximadamente 30 cm de
largura, colocadas em sentido longitudinal em relação às paredes maiores, de
madeira na cor natural, em forma de abóbada de berço, e está decorado, ao longo
das laterais, com pinturas que representam as seguintes cenas da vida de São
Francisco: o Nascimento, a Pobreza, a Renúncia, os Primeiros Franciscanos, os
Estigmas, a Morte. As figuras pintadas nas laterais medem aproximadamente 2,00
a 3,00 m de altura.
No centro do teto, um medalhão representa a Coroação de
Nossa Senhora pela Santíssima Trindade, porém não existe uma ornamentação de
parapeitos e molduras, uma vez que as imagens que compõem as cenas laterais
saem direto da cimalha, pintada em scaiola, que separa as paredes da abóbada
que forma o teto.
A Capela do Cemitério
da Consolação.
Profa. Ms. Viviane Comunali
O mais idoso da cidade
de São Paulo, coetâneo dos cemitérios secularizados brasileiros, quase todos
datados do meado dos Oitocentos. Sem dúvida é o que melhor representa a
abastança da pauliceia. (VALLADARES,
1972, p. 1075).
A Capela de Ramos de Azevedo
A nova capela segue o estilo eclético, seu formato circular
permitiu ao arquiteto incluir quatro portas em madeira distribuídas pelas
laterais, cada uma com duas pequenas janelas para a ventilação, um friso
contorna a abertura das portas e na parte interna, cornijas sobre as portas
compõem a ornamentação. A porta principal, além das janelas temos um gradil
superior que auxilia na ventilação local. No lado oposto a entrada principal,
temos um nicho com uma janela ornamentada com um vitral a frente um Jesus
crucificado e um altar em mármores. Nas laterais, duas colunas no estilo ordem
toscana servem de suporte para o portão em ferro que ornamenta o espaço. O teto
abobado contem aberturas para facilitar a entrada de ar, em cada uma delas,
quatro colunas simples. Posteriormente foram acrescentados os vidros para
fechar essas saídas de ar.
Marino del
Favero e sua contribuição para a imaginária sacra paulistana.
Cristiana Antunes Cavaterra.
São também de sua autoria o Calvário (anterior à 1904)
localizado ao lado direito na entrada da Igreja de Santo Antônio; o monumental
Calvário (1907) executado para a Basílica de Nossa Senhora da Penha; a imagem
de Nossa Senhora Achiropita (1909 c.) para a igreja homônima; as imagens de
Nossa Senhora da Saúde e Santo Agostinho (1921), executadas para a Igreja de
Nossa Senhora da Saúde; as imponentes imagens de Santa Teresinha (1930),
patrona da Paróquia de Santa Teresinha, o São Judas Tadeu (1940) padroeiro da
Igreja de São Judas Tadeu e a grandiosa Nossa Senhora da Paz (1940), executada
como pagamento de uma promessa e doada
pelo escultor e sua família para a Igreja de Nossa Senhora da Paz.
São ainda assinadas pelo Estabelecimento S. Marco as imagens
não datadas de São Roque (s.d.) da Igreja de Nossa Senhora de Pompéia; as
imagens do Cristo Crucificado da Igreja do Sagrado Coração de Jesus e da Igreja
de São Luís Gonzaga; os relevos do Batismo de Jesus da Igreja do Sagrado
Coração de Jesus e da Igreja de Santa Teresinha, Anjos tocheiros da antiga
Capela do Pátio do Colégio e que hoje se encontram no Museu Anchieta e no coro
da capela, e o par de Anjos Tocheiros em madeira pintada de branco no trono do
altar-mor da Igreja de São Gonçalo.
Memória dos
Jesuítas em São Paulo
Prof. Dr. Percival Tirapeli
O Colégio nas descrição dos viajantes: os cientistas
viajantes também deixaram suas impressões por escrito incluso a parte interna
da antiga casa dos jesuítas transformada em Palácio do Governo e residência dos
Capitães Generais então Governadores e em continuidade depois da Independência
(1822), para os Presidentes da Província. Anos mais tarde em 1834, o brigadeiro
Tobias de Aguiar, que tem sobrado junto a parte lateral da igreja, instalou na
piso superior a Assembleia Legislativa que lá ficou até 1879. A entrada se
fazia pela porta da antiga portaria junto a torre e assim foi descrito o
conjunto em 1861 por um ministro suiço J.J. Tschudi : O antigo colégio dos jesuítas é outro edifício decorativo que está
situado no lugar chamado Largo do Colégio (Praça dos Jesuítas), formando dois
lados do mesmo. Numa das extremidades está a igreja, abafada e de linhas
comuns. Ao lado dela há uma casa de sobrado, em cujo andar térreo, atualmente,
funciona a Câmara dos Deputados provinciais; no andar superior existem
repartições públicas. No outro lado, em ângulo reto, está a ampla residência do
presidente, à qual se vai por uma entrada mal planejada, coberta por telhado em
forma de dossel. As peças internas são amplas e com franco aspecto de quartel,
e nada lembra o tão refinado gosto arquitetônico dos padres da Sociedade de
Jesus. As divisões internas devem ter sido muito úteis aos fins a que se
destinavam.
Fachada e interior da Igreja de São Rafael, Mooca.
Desejos imigrados:
Contatos entre as culturas italiana e paulistana por meio da análise de duas
igrejas construídas na Mooca e no Glicério
Ms.Milene Chiovatto
O que se sente ao adentrar a igreja Nossa Senhora da Paz é a
sensação de imergir numa concha protetora de silêncio, humildade e paz. Porém,
o templo de modo algum mostra-se humilde. É perceptível o cuidado precioso das
articulações formadas entre espaços, esculturas e pinturas, revelando, se não
luxo, ao menos majestade. Incentivando o resplendor em outra direção que não a
física, mas a metafísica, proporcionando o adensamento da religiosidade através
de uma medida impressão de pobreza.
A nave central é ampla e conduz, diretamente, à abside do
altar principal. As asas laterais abrigam capelas dispostas em sequência,
possuindo em cada abside e paredes pinturas em afresco. Todos os afrescos foram
realizados por Pennacchi em tons terrosos (marrons, sienas, ocres) que
enfatizam a quietude da construção, evidenciando os beges claríssimos das
imagens feitas por Galileo Emendabili em mármore travertino.
É bastante evidente a preferência pela técnica do afresco,
tanto quanto pelo desenho sintético das massas corporais dos retratados,
resgatando, deliberadamente, as técnicas e estéticas tradicionais
pré-renascentistas.
Pátio interno. Foto Vitor Hugo Mori.
O Museu de Arte
Sacra de São Paulo Carlos A.C Lemos, SP. Banco Safra 1983.
O acervo do MAS-SP é variadíssimo e acompanha toda a cronologia da Igreja paulistana.
Mas abrange, igualmente, a vasta região primitivamente sob a jurisdição do
Bispado de São Paulo, criado em 1745, o que significa acharem- se ali expostas
obras originarias de áreas distantes, muito além das atuais fronteiras do
Estado. A maioria das peças, entretanto, provém mesmo das velhas igrejas da
Cidade e seus arredores. Elas se distinguem das de outras regiões ricas da
Colônia pela modéstia na composição e na singeleza dos acabamentos. No que
tange à arquitetura, somente a Sé velha chegara a ter uma portada de pedra
lavrada com algum requinte e, por isso motivo de admiração na cidade pobre. Nos
primórdios da abastança propiciada pela economia cafeeira, as igrejas e capelas
foram sendo demolidas, sem contemplação, e reconstruídas de acordo com um novo
conceito de “modernidade” que impunha cânones estéticos alheios à formação e à
tradição histórico-cultural do povo. O conjunto das igrejas franciscanas talvez
tenha sido o único a ser preservado da febre renovadora. Ainda assim, o velho
Convento de São Francisco foi demolido no início da década de trinta, para ser
substituído, por estranho que pareça, por um pretenso edifício colonial, sede
da Faculdade de Arcadas. Isso, paradoxalmente, se deveu à influência de
personalidades que sempre se apresentaram como defensoras da tradição histórica,
artística e cultural de São Paulo. Em algumas dezenas de anos, do último
quartel do século XIX até aos anos do início da Segunda Grande Guerra, foram
demolidas, dentre outras menos importantes, as Igrejas da Misericórdia, de
Nossa Senhora do Rosário, do Pátio do Colégio, de São Pedro dos Clérigos, da
Sé, de Nossa Senhora dos Remédios, do Recolhimento de Santa Teresa. Foram
bastante alteradas as de Santo Antônio e do Carmo; reconstruídas, em novos
estilos da moda, a Sé Catedral, a Abadia de São Bento, as igrejas de Santa
Ifigênia, da Consolação e do Brás. E, “last
but no least”, em concreto armado, e, recentemente, a Igreja do Pátio do
Colégio! De quase todas, entretanto, a partir de 1907, Dom Duarte Leopoldo e
Silva conseguiu pôr a salvo as peças mais representativas, principalmente as
pratas e imagens, recolhendo-as ao que denominou Museu da Cúria. Boa parte,
desgraçadamente, aqui como em outras regiões do país, foi parar às mãos dos
antiquários e abrigar-se na intimidade das coleções particulares.
A cabocla Capela de São Miguel
Prof.Dr. Julio Meiron
A atual edificação, de 1622, é
obra de diversos e desconhecidos colaboradores, inclusive muitos indígenas. A
Capela de São Miguel é a igreja sobrevivente mais antiga de São Paulo. Pensar
sobre esta Capela é nos transportarmos para uma São Paulo dos primórdios,
cabocla, a operar fusões entre nativos indígenas e colonizadores europeus.
Fruto de esforço coletivo, esta capela surgiu no aldeamento que se estabeleceu
na região leste de São Paulo desde a segunda metade do século XVI .
No planalto de Piratininga, na
região onde hoje está o centro de São Paulo, o cacique Tibiriçá aliou-se aos
colonizadores portugueses. Insatisfeito com esta aliança, um irmão do cacique,
o guerreiro Piquerobi, liderou o afastamento de parte dos indígenas para a
região então conhecida como Ururaí .
Logo em seguida, o jesuíta
Anchieta procurou os índios dissidentes para continuar o processo de
catequização. Assim se estabeleceu a junção nativa e cristã que rebatizou o
local como São Miguel de Ururaí. Justo São Miguel, anjo guerreiro, com o qual
os indígenas deviam ter se identificado.
Fato é que São Paulo era cercada
de aldeias, mas o processo de colonização foi extinguindo-as, fazendo com que
seus sobreviventes se aglomerassem nos polos restantes, mesmo cristianizados –
como o de São Miguel e o de Pinheiros. Isso tornou este dois polos, de certa
forma, irmãos, colocando-os nas origens dos bairros mais antigos de São Paulo.
Concentrando-nos em São Miguel, a
primeira Capela devia ser muito simples, de paredes de bambu e cobertura de
sapé. Só em 1622 construiu-se a igreja que sobreviveu até nossos dias. Esta
data está gravada na porta do templo.
As pinturas de Benedito Calixto no Museu de Arte Sacra de São
Paulo
Prof. Dr. Dalmo de Oliveira Souza e Silva
Sob o gênero da paisagem ou,
melhor dizendo, evocando aspectos da arquitetura religiosa na cidade de São
Paulo, temos sete pinturas no acervo do Museu de Arte Sacra que merecem
citação, são elas: Recolhimento de Santa
Teresa, Antigo Pátio do Colégio, Recolhimento da Luz, Igreja da Sé e Cúria de
São Paulo em 1863, Igreja do Brás em 1860, Antigo Seminário da Luz e Capela da
Graça. O conjunto dessas telas tornou-se importante documento iconográfico
das edificações religiosas da província de São Paulo, na virada do século XIX
para o século XX. Esse registro das construções religiosas é uma das ações que
nos fazem refletir sobre o papel da pintura de Benedito Calixto na conexão
entre Igreja e Estado.
Somem-se ao aspecto documental à
seleção das edificações religiosas, comumente, o uso da fotografia nesses
trabalhos se fez presente. Há uma série de pinturas de Benedito Calixto que
surgiram a partir das fotografias realizadas por Militão Augusto de Azevedo
(1837-1905). Algumas telas de Benedito Calixto feitas a partir das fotografias
de Militão foram encomendadas por Afonso d'Escragnolle Taunay (1876- 1958),
então diretor do recém-criado Museu Paulista (1895) . Segundo Alexandre Eulálio
(in MUSEU DE ARTE SACRA, 1987), há, ao menos, duas obras que integram o acervo
do Museu de Arte Sacra e que são realizadas a partir das fotos de Militão. São
elas: Recolhimento da Luz ou Seminário Episcopal marcado por uma construção
monumental, caracteristica de uma arquitetura monástica tão comum no século XIX
levada a fotografia por Militão em 1887
e Igreja do Brás em 1860, tela feita a partir da fotografia de 1862.
Igreja Nossa Senhora do Rosário – Embu das Artes
Igreja Nossa Senhora do Rosário – Embu das Artes
A pintura: de difícil conservação
tanto nas terras baixas do litoral como nas altas e úmidas da serra acima, as
pinturas se perderam na maior parte das capelas ou colégios. Serra acima, na
residência de Nossa Senhora do Rosário no antigo aldeamento Bohi (1624), depois
M’Boy Mirim, atual Embu das Artes, conservou-se o melhor testemunho de
aldeamento paulista dos padres jesuítas.
Os motivos pictóricos contidos no forro de caixotões da sacristia do Embu são pinturas alusivas à Paixão de Cristo. Pequenas paisagens emolduradas contendo os símbolos da paixão: o cálice em uma paisagens com o céu se abrindo na parte superior (com triplo sentido, da ceia, da amargura no Monte das Oliveiras e com o sangue escorrido na crucificação ou ainda da redenção pois há uma aurora e pássaros (alma) voando; a palma (da entrada em Jerusalém); a lança, que o soldado O mata e esponja com água); os três cravos que O pregam na cruz; e a face ensanguentada no manto da Verônica; a coluna da flagelação com uma paisagem de cidade ao fundo; os flagelos amarrados com uma espécie de ramos de vegetal (talvez o cetro) com uma paisagem com ciprestes a esquerda (morte) e árvores a direita (da vida); e uma luva de soldado com paisagem (Monte das Oliveiras e Jerusalém) e seria a prisão. Os símbolos estão emoldurados por linhas ovaladas, e de suas extremidades saem aos pares cabeças de anjos e plumas avermelhadas encimadas por outras cabeças de anjos com enfeites emplumados e outros geometrizados. Nos espaços entre as molduras determinados pelas pinhas e folhas de acanto há um ramo contínuo do qual saem variáveis formas de flores.
Os motivos pictóricos contidos no forro de caixotões da sacristia do Embu são pinturas alusivas à Paixão de Cristo. Pequenas paisagens emolduradas contendo os símbolos da paixão: o cálice em uma paisagens com o céu se abrindo na parte superior (com triplo sentido, da ceia, da amargura no Monte das Oliveiras e com o sangue escorrido na crucificação ou ainda da redenção pois há uma aurora e pássaros (alma) voando; a palma (da entrada em Jerusalém); a lança, que o soldado O mata e esponja com água); os três cravos que O pregam na cruz; e a face ensanguentada no manto da Verônica; a coluna da flagelação com uma paisagem de cidade ao fundo; os flagelos amarrados com uma espécie de ramos de vegetal (talvez o cetro) com uma paisagem com ciprestes a esquerda (morte) e árvores a direita (da vida); e uma luva de soldado com paisagem (Monte das Oliveiras e Jerusalém) e seria a prisão. Os símbolos estão emoldurados por linhas ovaladas, e de suas extremidades saem aos pares cabeças de anjos e plumas avermelhadas encimadas por outras cabeças de anjos com enfeites emplumados e outros geometrizados. Nos espaços entre as molduras determinados pelas pinhas e folhas de acanto há um ramo contínuo do qual saem variáveis formas de flores.
Igreja do Imaculado Coração de Maria
Prof. Dr. Nilson Ghirardello
A construção do templo do
Imaculado Coração de Maria ocorreu em um momento em que a Igreja Católica,
diferentemente de como havia se dado durante a Colônia e também no Império,
buscava novas fontes de recursos, agora não mais advindos do Estado laico recém
implantado. É um momento onde Estado e Igreja estavam formalmente separados
devido a Constituição de 1891, e deve-se acrescentar que a Velha República
possuía um quadro político de alto escalão totalmente anticlerical. Dessa forma
a Igreja precisava redirecionar seus esforços no sentido de buscar fundos entre
seus fiéis, em particular entre os de posses. Na placa de mármore assentada em
sua inauguração no pórtico, informa-se que o custo de sua construção foi de 320
contos de reis, sendo 250 contos aplicados pela
Diocese e restante coberto pelos fiéis.
Como forma de atrair seguidores
de alta classe, moradores do bairro e do aristocrático Higienópolis, a igreja
primará pela monumentalidade e luxo decorativo. Há absoluta coerência entre o
templo e sua vizinhança abastada. O
espaço sacro refletia fielmente a decoração dos grandes palacetes com seu ar
soturno, pinturas murais, pisos ornamentados, acortinados pesados e mobiliário
carregado. Com efeito o templo possui um tom sombrio, reforçado pela temática
pictórica religiosa, bastante colorida e carregada de exemplos edificantes,
piedade, culpa e sofrimento. Em ambos os casos rezava uma norma clássica do
ecletismo convencional: o horror pelo vazio. As poucas aberturas encontram-se
na zona superior do templo, incluindo-se na base da cúpula; a luz natural,
portanto, é amainada no interior provocando uma certa sensação de introspecção
e isolamento do mundo exterior.