sábado, 3 de novembro de 2018

Luz, Consolação, o escultor Del Favero, Jesuítas em Embu e no Pátio do Colégio, Cemitério da Consolação, N.S. da Paz no Glicério, Imaculada Conceiçao em Higienópolis - trechos de artigos inéditos do IV SIPS!

forro do coro da Luz, foto de Vitor Hugo Mori

Igreja e coro do Mosteiro da Luz
Maria  Lucia Bighetti Fioravanti
O coro das irmãs faz parte do recinto onde está localizada a clausura, e é de difícil acesso ao público.
É um recinto amplo de forma retangular, com os dois lados retilíneos menores medindo 7,10 m, sendo que um deles está voltado para a Igreja e está vedado por uma treliça, e o outro está voltado  para o exterior, cuja parede possui três janelas embaixo e um óculo na parte superior. Os dois lados maiores medem 12,5 m e possuem apenas uma porta em cada um.
O teto foi construído com tábuas de aproximadamente 30 cm de largura, colocadas em sentido longitudinal em relação às paredes maiores, de madeira na cor natural, em forma de abóbada de berço, e está decorado, ao longo das laterais, com pinturas que representam as seguintes cenas da vida de São Francisco: o Nascimento, a Pobreza, a Renúncia, os Primeiros Franciscanos, os Estigmas, a Morte. As figuras pintadas nas laterais medem aproximadamente 2,00 a 3,00 m de altura.
No centro do teto, um medalhão representa a Coroação de Nossa Senhora pela Santíssima Trindade, porém não existe uma ornamentação de parapeitos e molduras, uma vez que as imagens que compõem as cenas laterais saem direto da cimalha, pintada em scaiola, que separa as paredes da abóbada que forma o teto.





A Capela do Cemitério da Consolação.
Profa. Ms. Viviane Comunali
O mais idoso da cidade de São Paulo, coetâneo dos cemitérios secularizados brasileiros, quase todos datados do meado dos Oitocentos. Sem dúvida é o que melhor representa a abastança da pauliceia. (VALLADARES, 1972, p. 1075).
A Capela de Ramos de Azevedo
A nova capela segue o estilo eclético, seu formato circular permitiu ao arquiteto incluir quatro portas em madeira distribuídas pelas laterais, cada uma com duas pequenas janelas para a ventilação, um friso contorna a abertura das portas e na parte interna, cornijas sobre as portas compõem a ornamentação. A porta principal, além das janelas temos um gradil superior que auxilia na ventilação local. No lado oposto a entrada principal, temos um nicho com uma janela ornamentada com um vitral a frente um Jesus crucificado e um altar em mármores. Nas laterais, duas colunas no estilo ordem toscana servem de suporte para o portão em ferro que ornamenta o espaço. O teto abobado contem aberturas para facilitar a entrada de ar, em cada uma delas, quatro colunas simples. Posteriormente foram acrescentados os vidros para fechar essas saídas de ar.




Marino del Favero e sua contribuição para a imaginária sacra paulistana.
Cristiana Antunes Cavaterra.
São também de sua autoria o Calvário (anterior à 1904) localizado ao lado direito na entrada da Igreja de Santo Antônio; o monumental Calvário (1907) executado para a Basílica de Nossa Senhora da Penha; a imagem de Nossa Senhora Achiropita (1909 c.) para a igreja homônima; as imagens de Nossa Senhora da Saúde e Santo Agostinho (1921), executadas para a Igreja de Nossa Senhora da Saúde; as imponentes imagens de Santa Teresinha (1930), patrona da Paróquia de Santa Teresinha, o São Judas Tadeu (1940) padroeiro da Igreja de São Judas Tadeu e a grandiosa Nossa Senhora da Paz (1940), executada como pagamento de uma promessa  e doada pelo escultor e sua família para a Igreja de Nossa Senhora da Paz.
São ainda assinadas pelo Estabelecimento S. Marco as imagens não datadas de São Roque (s.d.) da Igreja de Nossa Senhora de Pompéia; as imagens do Cristo Crucificado da Igreja do Sagrado Coração de Jesus e da Igreja de São Luís Gonzaga; os relevos do Batismo de Jesus da Igreja do Sagrado Coração de Jesus e da Igreja de Santa Teresinha, Anjos tocheiros da antiga Capela do Pátio do Colégio e que hoje se encontram no Museu Anchieta e no coro da capela, e o par de Anjos Tocheiros em madeira pintada de branco no trono do altar-mor da Igreja de São Gonçalo.



Memória dos Jesuítas em São Paulo
Prof. Dr. Percival Tirapeli
O Colégio nas descrição dos viajantes: os cientistas viajantes também deixaram suas impressões por escrito incluso a parte interna da antiga casa dos jesuítas transformada em Palácio do Governo e residência dos Capitães Generais então Governadores e em continuidade depois da Independência (1822), para os Presidentes da Província. Anos mais tarde em 1834, o brigadeiro Tobias de Aguiar, que tem sobrado junto a parte lateral da igreja, instalou na piso superior a Assembleia Legislativa que lá ficou até 1879. A entrada se fazia pela porta da antiga portaria junto a torre e assim foi descrito o conjunto em 1861 por um ministro suiço J.J. Tschudi : O antigo colégio dos jesuítas é outro edifício decorativo que está situado no lugar chamado Largo do Colégio (Praça dos Jesuítas), formando dois lados do mesmo. Numa das extremidades está a igreja, abafada e de linhas comuns. Ao lado dela há uma casa de sobrado, em cujo andar térreo, atualmente, funciona a Câmara dos Deputados provinciais; no andar superior existem repartições públicas. No outro lado, em ângulo reto, está a ampla residência do presidente, à qual se vai por uma entrada mal planejada, coberta por telhado em forma de dossel. As peças internas são amplas e com franco aspecto de quartel, e nada lembra o tão refinado gosto arquitetônico dos padres da Sociedade de Jesus. As divisões internas devem ter sido muito úteis aos fins a que se destinavam.





Fachada e interior da Igreja de São Rafael, Mooca.

Desejos imigrados: Contatos entre as culturas italiana e paulistana por meio da análise de duas igrejas construídas na Mooca e no Glicério
Ms.Milene Chiovatto

O que se sente ao adentrar a igreja Nossa Senhora da Paz é a sensação de imergir numa concha protetora de silêncio, humildade e paz. Porém, o templo de modo algum mostra-se humilde. É perceptível o cuidado precioso das articulações formadas entre espaços, esculturas e pinturas, revelando, se não luxo, ao menos majestade. Incentivando o resplendor em outra direção que não a física, mas a metafísica, proporcionando o adensamento da religiosidade através de uma medida impressão de pobreza.
A nave central é ampla e conduz, diretamente, à abside do altar principal. As asas laterais abrigam capelas dispostas em sequência, possuindo em cada abside e paredes pinturas em afresco. Todos os afrescos foram realizados por Pennacchi em tons terrosos (marrons, sienas, ocres) que enfatizam a quietude da construção, evidenciando os beges claríssimos das imagens feitas por Galileo Emendabili em mármore travertino.
É bastante evidente a preferência pela técnica do afresco, tanto quanto pelo desenho sintético das massas corporais dos retratados, resgatando, deliberadamente, as técnicas e estéticas tradicionais pré-renascentistas.




Pátio interno. Foto Vitor Hugo Mori.

O Museu de Arte Sacra de São Paulo Carlos A.C Lemos, SP. Banco Safra 1983.
O acervo do MAS-SP é variadíssimo e acompanha toda a cronologia da Igreja paulistana. Mas abrange, igualmente, a vasta região primitivamente sob a jurisdição do Bispado de São Paulo, criado em 1745, o que significa acharem- se ali expostas obras originarias de áreas distantes, muito além das atuais fronteiras do Estado. A maioria das peças, entretanto, provém mesmo das velhas igrejas da Cidade e seus arredores. Elas se distinguem das de outras regiões ricas da Colônia pela modéstia na composição e na singeleza dos acabamentos. No que tange à arquitetura, somente a Sé velha chegara a ter uma portada de pedra lavrada com algum requinte e, por isso motivo de admiração na cidade pobre. Nos primórdios da abastança propiciada pela economia cafeeira, as igrejas e capelas foram sendo demolidas, sem contemplação, e reconstruídas de acordo com um novo conceito de “modernidade” que impunha cânones estéticos alheios à formação e à tradição histórico-cultural do povo. O conjunto das igrejas franciscanas talvez tenha sido o único a ser preservado da febre renovadora. Ainda assim, o velho Convento de São Francisco foi demolido no início da década de trinta, para ser substituído, por estranho que pareça, por um pretenso edifício colonial, sede da Faculdade de Arcadas. Isso, paradoxalmente, se deveu à influência de personalidades que sempre se apresentaram como defensoras da tradição histórica, artística e cultural de São Paulo. Em algumas dezenas de anos, do último quartel do século XIX até aos anos do início da Segunda Grande Guerra, foram demolidas, dentre outras menos importantes, as Igrejas da Misericórdia, de Nossa Senhora do Rosário, do Pátio do Colégio, de São Pedro dos Clérigos, da Sé, de Nossa Senhora dos Remédios, do Recolhimento de Santa Teresa. Foram bastante alteradas as de Santo Antônio e do Carmo; reconstruídas, em novos estilos da moda, a Sé Catedral, a Abadia de São Bento, as igrejas de Santa Ifigênia, da Consolação e do Brás. E, “last but no least”, em concreto armado, e, recentemente, a Igreja do Pátio do Colégio! De quase todas, entretanto, a partir de 1907, Dom Duarte Leopoldo e Silva conseguiu pôr a salvo as peças mais representativas, principalmente as pratas e imagens, recolhendo-as ao que denominou Museu da Cúria. Boa parte, desgraçadamente, aqui como em outras regiões do país, foi parar às mãos dos antiquários e abrigar-se na intimidade das coleções particulares.


Pintura mural jesuítica, século 17.

A cabocla Capela de São Miguel
Prof.Dr. Julio Meiron
A atual edificação, de 1622, é obra de diversos e desconhecidos colaboradores, inclusive muitos indígenas. A Capela de São Miguel é a igreja sobrevivente mais antiga de São Paulo. Pensar sobre esta Capela é nos transportarmos para uma São Paulo dos primórdios, cabocla, a operar fusões entre nativos indígenas e colonizadores europeus. Fruto de esforço coletivo, esta capela surgiu no aldeamento que se estabeleceu na região leste de São Paulo desde a segunda metade do século XVI .
No planalto de Piratininga, na região onde hoje está o centro de São Paulo, o cacique Tibiriçá aliou-se aos colonizadores portugueses. Insatisfeito com esta aliança, um irmão do cacique, o guerreiro Piquerobi, liderou o afastamento de parte dos indígenas para a região então conhecida como Ururaí .
Logo em seguida, o jesuíta Anchieta procurou os índios dissidentes para continuar o processo de catequização. Assim se estabeleceu a junção nativa e cristã que rebatizou o local como São Miguel de Ururaí. Justo São Miguel, anjo guerreiro, com o qual os indígenas deviam ter se identificado.
Fato é que São Paulo era cercada de aldeias, mas o processo de colonização foi extinguindo-as, fazendo com que seus sobreviventes se aglomerassem nos polos restantes, mesmo cristianizados – como o de São Miguel e o de Pinheiros. Isso tornou este dois polos, de certa forma, irmãos, colocando-os nas origens dos bairros mais antigos de São Paulo.
Concentrando-nos em São Miguel, a primeira Capela devia ser muito simples, de paredes de bambu e cobertura de sapé. Só em 1622 construiu-se a igreja que sobreviveu até nossos dias. Esta data está gravada na porta do templo.


As pinturas de Benedito Calixto no Museu de Arte Sacra de São Paulo
Prof. Dr. Dalmo de Oliveira Souza e Silva
Sob o gênero da paisagem ou, melhor dizendo, evocando aspectos da arquitetura religiosa na cidade de São Paulo, temos sete pinturas no acervo do Museu de Arte Sacra que merecem citação, são elas: Recolhimento de Santa Teresa, Antigo Pátio do Colégio, Recolhimento da Luz, Igreja da Sé e Cúria de São Paulo em 1863, Igreja do Brás em 1860, Antigo Seminário da Luz e Capela da Graça. O conjunto dessas telas tornou-se importante documento iconográfico das edificações religiosas da província de São Paulo, na virada do século XIX para o século XX. Esse registro das construções religiosas é uma das ações que nos fazem refletir sobre o papel da pintura de Benedito Calixto na conexão entre Igreja e Estado.
Somem-se ao aspecto documental à seleção das edificações religiosas, comumente, o uso da fotografia nesses trabalhos se fez presente. Há uma série de pinturas de Benedito Calixto que surgiram a partir das fotografias realizadas por Militão Augusto de Azevedo (1837-1905). Algumas telas de Benedito Calixto feitas a partir das fotografias de Militão foram encomendadas por Afonso d'Escragnolle Taunay (1876- 1958), então diretor do recém-criado Museu Paulista (1895) . Segundo Alexandre Eulálio (in MUSEU DE ARTE SACRA, 1987), há, ao menos, duas obras que integram o acervo do Museu de Arte Sacra e que são realizadas a partir das fotos de Militão. São elas: Recolhimento da Luz ou Seminário Episcopal marcado por uma construção monumental, caracteristica de uma arquitetura monástica tão comum no século XIX levada a fotografia  por Militão em 1887 e Igreja do Brás em 1860, tela feita a partir da fotografia de 1862.

Igreja Nossa Senhora do Rosário – Embu das Artes
Percival Tirapeli

A pintura: de difícil conservação tanto nas terras baixas do litoral como nas altas e úmidas da serra acima, as pinturas se perderam na maior parte das capelas ou colégios. Serra acima, na residência de Nossa Senhora do Rosário no antigo aldeamento Bohi (1624), depois M’Boy Mirim, atual Embu das Artes, conservou-se o melhor testemunho de aldeamento paulista dos padres jesuítas. 
Os motivos pictóricos contidos no forro de caixotões da sacristia do Embu são pinturas alusivas à Paixão de Cristo. Pequenas paisagens emolduradas contendo os símbolos da paixão: o cálice em uma paisagens com o céu se abrindo na parte superior (com triplo sentido, da ceia, da amargura no Monte das Oliveiras e com o sangue escorrido na crucificação ou ainda da redenção pois há uma aurora e pássaros (alma) voando; a palma  (da entrada em Jerusalém); a lança, que o soldado O mata e esponja com água); os três cravos que O pregam na cruz; e a face ensanguentada no manto da Verônica; a coluna da flagelação com uma paisagem de cidade ao fundo; os flagelos amarrados com uma espécie de ramos de vegetal (talvez o cetro) com uma paisagem com ciprestes a esquerda (morte) e árvores a direita (da vida); e uma luva de soldado com paisagem (Monte das Oliveiras e Jerusalém) e seria a prisão. Os símbolos estão emoldurados por linhas ovaladas, e de suas extremidades saem aos pares cabeças de anjos e plumas avermelhadas encimadas por outras cabeças de anjos com enfeites emplumados e outros geometrizados.  Nos espaços entre as molduras determinados pelas pinhas e folhas de acanto há um ramo contínuo do qual saem variáveis formas de flores.




Igreja do Imaculado Coração de Maria
Prof. Dr. Nilson Ghirardello
A construção do templo do Imaculado Coração de Maria ocorreu em um momento em que a Igreja Católica, diferentemente de como havia se dado durante a Colônia e também no Império, buscava novas fontes de recursos, agora não mais advindos do Estado laico recém implantado. É um momento onde Estado e Igreja estavam formalmente separados devido a Constituição de 1891, e deve-se acrescentar que a Velha República possuía um quadro político de alto escalão totalmente anticlerical. Dessa forma a Igreja precisava redirecionar seus esforços no sentido de buscar fundos entre seus fiéis, em particular entre os de posses. Na placa de mármore assentada em sua inauguração no pórtico, informa-se que o custo de sua construção foi de 320 contos de reis, sendo 250 contos aplicados pela  Diocese e restante coberto pelos fiéis.
Como forma de atrair seguidores de alta classe, moradores do bairro e do aristocrático Higienópolis, a igreja primará pela monumentalidade e luxo decorativo. Há absoluta coerência entre o templo e sua vizinhança abastada.  O espaço sacro refletia fielmente a decoração dos grandes palacetes com seu ar soturno, pinturas murais, pisos ornamentados, acortinados pesados e mobiliário carregado. Com efeito o templo possui um tom sombrio, reforçado pela temática pictórica religiosa, bastante colorida e carregada de exemplos edificantes, piedade, culpa e sofrimento. Em ambos os casos rezava uma norma clássica do ecletismo convencional: o horror pelo vazio. As poucas aberturas encontram-se na zona superior do templo, incluindo-se na base da cúpula; a luz natural, portanto, é amainada no interior provocando uma certa sensação de introspecção e isolamento do mundo exterior.