segunda-feira, 5 de novembro de 2018

Jardim América e Pinheiros: Igrejas N.S. do Brasil e N.S. do Monte Serrate


                                          Altar-mor. Foto: ®Wikipedia.
Igreja Nossa Senhora do Brasil
Christian Mascarenhas
Houve dois projetos para a igreja matriz do Jardim América – um de George Przyrembel e outro de Bruno Simões Magro. Seguindo o gosto vigente em algumas residências no bairro do Jardim América, o templo foi construído em estilo que busca imitar o colonial a partir do projeto de Bruno Magro, professor da Escola Politécnica de São Paulo à época. Ao observar o resultado final da construção, é possível perceber alguns traços de inspiração nas igrejas mineiras. Mais especificamente, o templo paulista parece unir elementos das fachadas das igrejas de São Francisco de Assis e de Nossa Senhora do Carmo, ambas de São João del-Rei. A maior parte da decoração da igreja foi realizada em azulejos pelo artista Antônio Paim Vieira, com o intuito de criar uma decoração que trouxesse “brasilidade” para o templo. O atual retábulo-mor da igreja, em estilo joanino, é de aproximadamente 1750 e é proveniente da antiga igreja matriz de Santana, em Mogi das Cruzes, destruída para a construção de sua atual catedral.

Igreja Nossa Senhora do Monte Serrate
Christian Mascarenhas
A atual igreja de Nossa Senhora do Monte Serrate, localizada entre os largos de Pinheiros e da Batata é, ao menos, a quarta construção local. A primeira capela, da qual não existem descrições, remete ao final do século 16 e pertencia à aldeia de Nossa Senhora da Conceição dos Pinheiros, provavelmente fundada pelo padre Anchieta à mesma época que a capela de São Miguel. A mudança do orago se dá apenas após a expulsão dos jesuítas de São Paulo, quando a capela passa a ser responsabilidade dos beneditinos que instituem a nova devoção à Virgem de Monte Serrate. Em 1870, por iniciativa dos moradores da região, foi construída uma igreja um pouco maior, também demolida em 1942 para dar lugar à construção atual. Seu antigo altar do século 18 já esteve no Mosteiro de São Bento, em São Paulo, e hoje pertence ao Mosteiro beneditino de Jundiaí.

Programa atualizado


Vitral Anunciação Capela de Santa Luzia, Rua Tabatinguera, Centro

IV Seminário Patrimônio Sacro – arquitetura, arte e cultura em São Paulo

Teatro do Mosteiro de São Bento
8 e 9 de novembro de 2018, das 9h às 18h

Igreja de Nossa Senhora do Carmo,
10 de novembro de 2018, das 10h às 13h

Programa atualizado
Atenção, devido aos horários possíveis dos coffee-breaks e almoços no Mosteiro, dias 8 e 9, informamos ajustes na programação.

Quinta-feira, 8 novembro - manhã
Teatro do Mosteiro de São Bento

9h - Recepção, credenciamento
9h15 - Café (por adesão)
9h30 - Abertura, Dom Mathias Tolentino Braga, Abade do Mosteiro de São Bento.
9h45 - Projeto do livro Arte e Fé - As Igrejas de São Paulo, Percival Tirapeli, coordenador do Barroco Memória Viva, Unesp.
10h15 - História da Arquidiocese de São Paulo, Gabriel Frade
11h - Arquitetura colonial e imperial – igrejas dos séculos 17 ao 19, Mateus Rosada, apresentação Myriam Salomão
11h30 - Ornamentação: dos altares barrocos aos modernos, Igrejas de São Francisco e Ordem Terceira, Mozart Bonazzi da Costa.
​​12h15 – Intervalo para almoço/12h30- almoço no refeitório ( por adesão)

Sessões da tarde
13h30 – Imaginária e devoções, Maria José Spiteri T. Passos.
14h15 - Imagens escultóricas de Marino del Favero, em São Paulo, Cristiana Cavaterra
14h30 - Igreja do Imaculado Coração de Maria, Nilson Ghirardello, FAAC, UNESP. Bauru.
15 h - Igreja N​.S. da Boa Morte e Capela de Santa Luzia, Myriam Salomão.
15h30 - Intervalo​/Café​ (por adesão)
16h - Mosteiro da Luz e N.S. Perpétuo Socorro, Maria Lúcia Bighetti Fioravanti.
16h30 - As pinturas de Benedito Calixto no Museu de Arte Sacra de São Paulo, Dalmo de Oliveira Souza e Silva.
17h - Capelas dos cemitérios da Consolação e São Paulo, Viviane Comunale.
17h30 - Igrejas N.S. da Penha, Cristo Rei e Basílica N​.S. da Assunção do Mosteiro de São Bento, Rosângela Aparecida da Conceição.
18h - Encerramento.

Sexta-feira, 9 de novembro - manhã
Teatro do Mosteiro de São Bento

9h - A pintura colonial e acadêmica em São Paulo, Danielle M. dos Santos Pereira.
9h30 - Igrejas do Sagrado Coração de Jesus e N.S. Auxiliadora, Waldir Salvadore.
9h45 – Igrejas de Santa Cecília, Consolação e Santa Ifigênia, Karin Philippov.
10h15 – A Catedral da Sé, Bianka Tomie Ortega.
10h30 - A luminosidade do vitral, Maria Eliza Linardi.
11h - Igreja da Imaculada Conceição e Capela do Hospital Santa Catarina, Lina Bandiera.
11h15 - Capela de São Miguel, Julio Meiron.
11h30 - Igreja de Santo Agostinho, Jaqueline Vasconcelos.
11h45 - Igrejas N.S. da Paz e São Rafael Arcanjo, Milena Chiovatto, apresentação Percival Tirapeli
12h – Intervalo para almoço/12h30 - almoço no refeitório (por adesão)

Sessões da tarde
13h30 – Arquitetura moderna religiosa paulistana, Igrejas de São Bonifácio e Santa Maria Madalena.Márcio Antônio de Lima Junior.
14h30 - Igrejas Rosário dos Pretos da Penha e do Largo Paissandu, Joceli Domingas de Oliveira
15h - Igreja N. S. Mãe do Salvador, Alecsandra Matias de Oliveira.
15h20 - Intervalo/Café ​(por adesão)
15h30 - Igrejas Nsa. Sra. do Brasil e Nsa. Sra. do Monte Serrate, Christian Nascimento.
16h – Capelas do Cristo Operário e do Colégio Arquidiocesano, Danielle M. dos S. Pereira.
16h30 – Igreja Nsa. Sra. do Ó e Capela da Santa Casa de Mauá, Rafael Schunk e Rosangela Aparecida da Conceição.
17h – Visita à igreja do Mosteiro de São Bento, João Rossi.
17h30 - Vésperas
18h - Encerramento

Sábado, 10 de novembro – manhã 
Igreja da Ordem Terceira de Nossa Senhora do Carmo (Metrô Sé/Av. Rangel Pestana)

10h - Palavra da Priora da Ordem Terceira, Dra. Elisângela Salomon Carreiro.
10h30 - O antigo patrimônio artístico dos carmelitanos da cidade de São Paulo, Carlos Cerqueira. Representante do IPHAN.
11h - Restauros das igrejas paulistanas. Julio Moraes (Ateliê Julio Moraes) e Dra. Marcia Rizzo (docente UFRJ).
11h30 – Restauros e leis de incentivo. Rosana Delellis. FormArte.
12h – Igrejas demolidas: convento de Santa Teresa e Convento do Carmo. Dr. Eduardo Murayama (UNESP/ docente IFSP)
12h30 – Conservação e desaparecimento do patrimônio sacro: a igreja dos Remédios. Dr. Carlos Augusto Mattei Faggin. Presidente do Condephaat.
13h – Palavras de encerramento:
Dom Odilo Scherer.
Percival Tirapeli. Coordenador do Grupo de Pesquisa Barroco Memória Viva. Unesp.



Refeições
Pacote R$50,00 por pessoa para os 2 dias (8 e 9)


Para este Seminário contamos com coffee-break e almoço no Colégio São Bento, dias 8 e 9, para os que assim o desejarem, ao custo de R$25,00 por pessoa por dia. 
Se for apenas para os cafés ( manhã e tarde), são R$5,00 por dia.

Pagamento em dinheiro no ato do credenciamento. 
Reserva na inscrição em patrimoniosacro@gmail.com

domingo, 4 de novembro de 2018

Penha, Carmo, Perpétuo Socorro: textos extraídos de artigos inéditos para o IV SIPS!


Santuário Eucarístico Nossa Senhora da Penha. A amada igreja dos devotos penhenses
Rosangela Aparecida da Conceição




Na reforma em 1923, ocorrida em função da inclinação da torre, foram retiradas as paredes laterais internas. O santuário viria a ser reformado em 1935, sob a direção do Pe. Oscar Chagas de Azevedo, C.Ss.R. (1888-1957), deixando seus traços coloniais para ser reconfigurado em estilo de basílica romana e decorado por Thomaz Scheuchl (1867-1947), que executa as pinturas em afresco das paredes laterais e superior do altar-mor, entrada para a sacristia e Capela do Santíssimo, datados e assinados entre 1938 e 1942. O esquema decorativo e compositivo de Thomaz Scheuchl é o mesmo que utilizou na Igreja do Rosário de Campinas, (decorada entre 1924 e 1928, demolida em 1956) e na Capela do Colégio de São Bento, que decorou entre 1936 e 1937. Comparando a decoração do altar-mor da Capela do Colégio e a da Capela do Santíssimo Sacramento é possível vermos as mesmas figurações, algumas com ligeiras alterações.
O conjunto pictórico do Santuário Eucarístico de Nossa Senhora da Penha totaliza vinte e oito pinturas. Na nave, as cinco pinturas representam o ciclo de vida de Maria e o Menino Jesus, distribuídos da seguinte maneira: duas próximas ao altar-mor, “A Anunciação” e “Encontro com Santa Isabel”; ao centro, “O nascimento de Jesus”; na entrada, “A apresentação do Menino Jesus no templo” e “Jesus pregando aos Doutores da lei”. No forro do altar-mor, ao centro, a representação de “Nossa Senhora da Penha” em uma moldura em formato de mandorla, ladeada por seis medalhões que representam a “Milícia Celeste”.
Nas paredes laterais, parte inferior, duas pinturas, uma correspondendo às “Bodas de Caná” e outra sobre os “Bem-aventurados”; ao fundo, na parte superior, dividido em três blocos, respectivamente, nas laterais representando os “Evangelistas” e, ao centro, “Nossa Senhora e o Menino Jesus” se dirigem aos orantes.
Nas paredes da Capela do Santíssimo Sacramento temos três pinturas que representam a vida de Jesus e seus milagres; quatro anjos que ladeiam o altar e mais dois próximos a entrada. Na entrada para a sacristia, três pinturas também com cenas da vida de Jesus e os Apóstolos, “O Credo”, e duas pinturas sendo “Moisés” e a “Tábua das Leis”, na parede ao fundo.


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patrimonioespiritual.org/2016/11/13/basilica-de-nossa-senhora-do-carmo-sao-paulo-sp/



Convento e Basílica de Nossa Senhora do Carmo
Eduardo Tsutomu Murayama

Com a desapropriação e demolição do antigo Convento e Igreja do Carmo, a partir de 1928, para a construção do então Palácio do Congresso e alargamento da Avenida Rangel Pestana, os frades carmelitas utilizaram a indenização paga pelo governo para aquisição de uma chácara no bairro da Bela Vista, onde edificaram novo convento, colégio e igreja. O conjunto foi projetado pelo arquiteto polonês Georg Przyrembel (1885-1956) em estilo neocolonial, característico da arquitetura religiosa paulistana da primeira metade do século XX. A imponente igreja, situada na Rua Martiniano de Carvalho, apresenta escadaria em granito e frontispício em arenito. A pedra fundamental foi lançada em 1928 e o conjunto inaugurado em abril de 1934. Przyrembel aproveitou os retábulos, sanefas, lambrequins e guarda-corpos do templo carmelita em demolição e os inseriu na nova edificação. Desse modo, o atual altar principal é uma junção dos antigos altar-mor e altar do Santíssimo (barrocos, provavelmente da década de 1760), com imagens dos profetas Elias e Eliseu, e da Virgem do Carmo e peças de execução mais recentes, do século XX. Os retábulos laterais do antigo Carmo, em sua maioria do século XIX e de estilo neoclássico e posteriores, também foram transferidos e realocados nos corredores adjacentes à nave. As pinturas do teto principal – um grande afresco representando a fundação da primitiva igreja do Carmo em São Paulo, a glorificação de Nossa Senhora do Carmo e a visão do profeta Elias – e do teto e laterais da capela-mor, foram realizadas por Tulio Mugnaini (1895-1975); as pinturas da Via Sacra foram feitas por Carlos Oswald (1882-1971) e os vitrais foram executados pela Casa Conrado Sorgenicht.      




Antigo Convento e igreja do Carmo
Eduardo Tsutomu Murayama

Os primeiros frades carmelitas chegaram em São Paulo por volta de 1592, vindo de Santos, onde receberam doação de terrenos de Brás Cubas. Em 1594, construíram uma convento e capela no local denominado “Outeiro da Tabatinguera”, uma elevação próxima de uma ladeira que desembocava na várzea do rio Tamanduateí. Muito provavelmente a edificação primitiva era precária e de pequenas dimensões. Com o acúmulo de riquezas pela Ordem, nas décadas seguintes, a construção foi sendo transformada e em 1766 praticamente reedificada. No início do século XIX, devido à escassez de religiosos, o prédio foi requisitado para abrigar repartições públicas. Em 1831, o Corpo Policial de Permanentes da Cidade passou a ocupar o pavimento térreo do convento, aí permanecendo até 1906. Conforme descrições de viajantes estrangeiros e cronistas do final do século XIX e início do século XX, o chamado Conjunto do Carmo era formado pelo convento, do lado esquerdo – edifício de dois pavimentos, com onze janelas e varandas no andar superior, e dez janelas e entrada no pavimento inferior; e as igrejas carmelitas. Contíguo ao convento, a igreja dos frades, e à direita, a igreja da Ordem Terceira do Carmo. As igrejas eram separadas por uma única grande torre sineira, da mesma maneira que outras construções carmelitas da época (Santos, Angra dos Reis, Mogi das Cruzes). Em dezembro de 1927, o Governo do Estado desapropriou o terreno dos frades carmelitas para a construção do Palácio do Congresso (hoje Secretaria da Fazenda) e o alargamento da Avenida Rangel Pestana, e a partir de 1928 o convento e a igreja conventual foram demolidos. No final do século XVIII, a igreja dos frades recebeu pintura do artista santista Jesuíno Francisco de Paula Gusmão, o padre Jesuíno do Monte Carmelo (1764-1819). Todavia, como lamentou o pesquisador Mário de Andrade, com a demolição de 1928, muito pouco das pinturas se salvou (caso da “capela esquecida”), e provavelmente nessa época a obra pictórica do padre Jesuíno já havia sido substituída ou repintada. Entretanto, boa parte dos retábulos e outros elementos arquitetônicos dos séculos XVIII e XIX foram reutilizados na decoração do novo convento e igreja do Carmo, na Bela Vista, para onde os frades carmelitas se transferiram.   


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O antigo Recolhimento de Santa Thereza, pintado por Benedito Calixto ( MAS/SP)

Convento de Santa Teresa
Eduardo Tsutomu Murayama
O antigo Recolhimento de Santa Thereza foi o a primeira clausura feminina da cidade de São Paulo, fundada em 1685 pelos donativos dos bandeirantes Lourenço Castanho Taques, o Moço (c.1641-1708) e de Pedro Taques de Almeida (c.1642-1724). Os terrenos para a sua construção foram doados por Manuel Vieira de Barros (1656-1705). A iniciativa da empreitada, a autorização para a sua construção e a sua inauguração foram obra de Dom José de Barros Alarcão (1634-1700), primeiro bispo da Diocese de São Sebastião do Rio de Janeiro. A administração da casa foi entregue às Carmelitas Descalças. Ao primeiro bispo de São Paulo, Dom Bernardo Rodrigues Nogueira (1695-1748), devem-se os estatutos (1748), os quais até o início do século XX, com pequenas modificações, regeram o estabelecimento das enclausuradas. Em 1913 ocorreu a reforma eclesiástica que transformou o antigo recolhimento em mosteiro. Devido às precárias condições de estabilidade e de higiene do velho edifício, aliados ao barulho e ao movimento constante causado pelas transformações do entorno, principalmente a remodelação da Praça da Sé, as freiras carmelitas se mudaram provisoriamente, em fevereiro de 1918, para a antiga chácara Rodovalho, localizado no bairro da Penha, na Zona Leste. O velho recolhimento foi demolido em junho de 1918 (abrindo espaço para a construção do Palácio da Cúria) e o novo edifício que recebeu o mosteiro, localizado no bairro de Perdizes, foi inaugurado em 1922. Em 1924, Dom Duarte doou as pinturas que faziam parte do suposto teto em caixotão da capela e as talhas do templo que haviam sido retirados na demolição de 1918 para a Igreja da Ordem Terceira do Carmo. As talhas foram utilizadas pelo arquiteto Ricardo Severo (1869-1940) na reforma da sacristia dos terceiros carmelitas e os quadros teresinos, depois de “restaurados” por pintor desconhecido indicado por Severo, foram dispostos no corredor lateral esquerdo, de acesso à sacristia a partir da rua, onde se encontram atualmente.  
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SAMSON FLEXOR na Igreja do Perpétuo Socorro
Maria Lucia Bighetti Fioravanti

Considerado o mais importante introdutor do Abstracionismo no Brasil, nasceu em 1907 em Soroca, Bessarabia, na época província Russa e mais tarde território da Romênia, filho de pai russo e mãe francesa, ambos de origem israelita. Sua infância foi marcada pela morte do irmão e problemas de saúde da mãe. Aos 15 anos foi mandado à Bélgica onde frequentou cursos de pintura.
Em 1924, chegou a Paris e foi estudar na Escola Nacional de Belas Artes e no curso de História da Arte da Sorbonne, justamente no momento em que o movimento artístico está em plena efervescência naquela cidade, tendo a Escola de Paris de um lado e as Vanguardas se manifestando com suas inovações de outro;
Com uma personalidade fundamentalmente racional, no entanto, Flexor mostra forte tendência para o misticismo e busca a religiosidade, onde ela se oferece, ou seja, junto aos padres, seus amigos com quem conversa sobre os problemas da vida. Quando a mulher com quem se casou em 1930, veio a falecer após três anos, em conseqüência do parto, assim como o bebê, foi buscar consolo na amizade de um padre, Abbé Richard, de quem recebeu encomendas de murais e afrescos para uma igreja, aprofundando assim seus conhecimentos do afresco, na pesquisa do simbolismo das cores e as raízes bizantinas da arte sacra e  seguida se converteu ao catolicismo em 1933, especializando –se em pintura mural e arte sacra.
Finalmente, decide a mudança com a família para o Brasil e chega a São Paulo em 1947, no momento em que atingem o auge, as controvérsias entre Figuração e Abstração.
Todo seu trabalho de cunho geométrico puro é baseado na proporção divina e pode ser aplicada a todas as formas da natureza. Passa a usar, nesta fase, o enquadramento da figura segundo um esquema matemático e também a produzir desenhos-projeto os quais se encontram no Museu de Arte Contemporânea de São Paulo.

sábado, 3 de novembro de 2018

Luz, Consolação, o escultor Del Favero, Jesuítas em Embu e no Pátio do Colégio, Cemitério da Consolação, N.S. da Paz no Glicério, Imaculada Conceiçao em Higienópolis - trechos de artigos inéditos do IV SIPS!

forro do coro da Luz, foto de Vitor Hugo Mori

Igreja e coro do Mosteiro da Luz
Maria  Lucia Bighetti Fioravanti
O coro das irmãs faz parte do recinto onde está localizada a clausura, e é de difícil acesso ao público.
É um recinto amplo de forma retangular, com os dois lados retilíneos menores medindo 7,10 m, sendo que um deles está voltado para a Igreja e está vedado por uma treliça, e o outro está voltado  para o exterior, cuja parede possui três janelas embaixo e um óculo na parte superior. Os dois lados maiores medem 12,5 m e possuem apenas uma porta em cada um.
O teto foi construído com tábuas de aproximadamente 30 cm de largura, colocadas em sentido longitudinal em relação às paredes maiores, de madeira na cor natural, em forma de abóbada de berço, e está decorado, ao longo das laterais, com pinturas que representam as seguintes cenas da vida de São Francisco: o Nascimento, a Pobreza, a Renúncia, os Primeiros Franciscanos, os Estigmas, a Morte. As figuras pintadas nas laterais medem aproximadamente 2,00 a 3,00 m de altura.
No centro do teto, um medalhão representa a Coroação de Nossa Senhora pela Santíssima Trindade, porém não existe uma ornamentação de parapeitos e molduras, uma vez que as imagens que compõem as cenas laterais saem direto da cimalha, pintada em scaiola, que separa as paredes da abóbada que forma o teto.





A Capela do Cemitério da Consolação.
Profa. Ms. Viviane Comunali
O mais idoso da cidade de São Paulo, coetâneo dos cemitérios secularizados brasileiros, quase todos datados do meado dos Oitocentos. Sem dúvida é o que melhor representa a abastança da pauliceia. (VALLADARES, 1972, p. 1075).
A Capela de Ramos de Azevedo
A nova capela segue o estilo eclético, seu formato circular permitiu ao arquiteto incluir quatro portas em madeira distribuídas pelas laterais, cada uma com duas pequenas janelas para a ventilação, um friso contorna a abertura das portas e na parte interna, cornijas sobre as portas compõem a ornamentação. A porta principal, além das janelas temos um gradil superior que auxilia na ventilação local. No lado oposto a entrada principal, temos um nicho com uma janela ornamentada com um vitral a frente um Jesus crucificado e um altar em mármores. Nas laterais, duas colunas no estilo ordem toscana servem de suporte para o portão em ferro que ornamenta o espaço. O teto abobado contem aberturas para facilitar a entrada de ar, em cada uma delas, quatro colunas simples. Posteriormente foram acrescentados os vidros para fechar essas saídas de ar.




Marino del Favero e sua contribuição para a imaginária sacra paulistana.
Cristiana Antunes Cavaterra.
São também de sua autoria o Calvário (anterior à 1904) localizado ao lado direito na entrada da Igreja de Santo Antônio; o monumental Calvário (1907) executado para a Basílica de Nossa Senhora da Penha; a imagem de Nossa Senhora Achiropita (1909 c.) para a igreja homônima; as imagens de Nossa Senhora da Saúde e Santo Agostinho (1921), executadas para a Igreja de Nossa Senhora da Saúde; as imponentes imagens de Santa Teresinha (1930), patrona da Paróquia de Santa Teresinha, o São Judas Tadeu (1940) padroeiro da Igreja de São Judas Tadeu e a grandiosa Nossa Senhora da Paz (1940), executada como pagamento de uma promessa  e doada pelo escultor e sua família para a Igreja de Nossa Senhora da Paz.
São ainda assinadas pelo Estabelecimento S. Marco as imagens não datadas de São Roque (s.d.) da Igreja de Nossa Senhora de Pompéia; as imagens do Cristo Crucificado da Igreja do Sagrado Coração de Jesus e da Igreja de São Luís Gonzaga; os relevos do Batismo de Jesus da Igreja do Sagrado Coração de Jesus e da Igreja de Santa Teresinha, Anjos tocheiros da antiga Capela do Pátio do Colégio e que hoje se encontram no Museu Anchieta e no coro da capela, e o par de Anjos Tocheiros em madeira pintada de branco no trono do altar-mor da Igreja de São Gonçalo.



Memória dos Jesuítas em São Paulo
Prof. Dr. Percival Tirapeli
O Colégio nas descrição dos viajantes: os cientistas viajantes também deixaram suas impressões por escrito incluso a parte interna da antiga casa dos jesuítas transformada em Palácio do Governo e residência dos Capitães Generais então Governadores e em continuidade depois da Independência (1822), para os Presidentes da Província. Anos mais tarde em 1834, o brigadeiro Tobias de Aguiar, que tem sobrado junto a parte lateral da igreja, instalou na piso superior a Assembleia Legislativa que lá ficou até 1879. A entrada se fazia pela porta da antiga portaria junto a torre e assim foi descrito o conjunto em 1861 por um ministro suiço J.J. Tschudi : O antigo colégio dos jesuítas é outro edifício decorativo que está situado no lugar chamado Largo do Colégio (Praça dos Jesuítas), formando dois lados do mesmo. Numa das extremidades está a igreja, abafada e de linhas comuns. Ao lado dela há uma casa de sobrado, em cujo andar térreo, atualmente, funciona a Câmara dos Deputados provinciais; no andar superior existem repartições públicas. No outro lado, em ângulo reto, está a ampla residência do presidente, à qual se vai por uma entrada mal planejada, coberta por telhado em forma de dossel. As peças internas são amplas e com franco aspecto de quartel, e nada lembra o tão refinado gosto arquitetônico dos padres da Sociedade de Jesus. As divisões internas devem ter sido muito úteis aos fins a que se destinavam.





Fachada e interior da Igreja de São Rafael, Mooca.

Desejos imigrados: Contatos entre as culturas italiana e paulistana por meio da análise de duas igrejas construídas na Mooca e no Glicério
Ms.Milene Chiovatto

O que se sente ao adentrar a igreja Nossa Senhora da Paz é a sensação de imergir numa concha protetora de silêncio, humildade e paz. Porém, o templo de modo algum mostra-se humilde. É perceptível o cuidado precioso das articulações formadas entre espaços, esculturas e pinturas, revelando, se não luxo, ao menos majestade. Incentivando o resplendor em outra direção que não a física, mas a metafísica, proporcionando o adensamento da religiosidade através de uma medida impressão de pobreza.
A nave central é ampla e conduz, diretamente, à abside do altar principal. As asas laterais abrigam capelas dispostas em sequência, possuindo em cada abside e paredes pinturas em afresco. Todos os afrescos foram realizados por Pennacchi em tons terrosos (marrons, sienas, ocres) que enfatizam a quietude da construção, evidenciando os beges claríssimos das imagens feitas por Galileo Emendabili em mármore travertino.
É bastante evidente a preferência pela técnica do afresco, tanto quanto pelo desenho sintético das massas corporais dos retratados, resgatando, deliberadamente, as técnicas e estéticas tradicionais pré-renascentistas.




Pátio interno. Foto Vitor Hugo Mori.

O Museu de Arte Sacra de São Paulo Carlos A.C Lemos, SP. Banco Safra 1983.
O acervo do MAS-SP é variadíssimo e acompanha toda a cronologia da Igreja paulistana. Mas abrange, igualmente, a vasta região primitivamente sob a jurisdição do Bispado de São Paulo, criado em 1745, o que significa acharem- se ali expostas obras originarias de áreas distantes, muito além das atuais fronteiras do Estado. A maioria das peças, entretanto, provém mesmo das velhas igrejas da Cidade e seus arredores. Elas se distinguem das de outras regiões ricas da Colônia pela modéstia na composição e na singeleza dos acabamentos. No que tange à arquitetura, somente a Sé velha chegara a ter uma portada de pedra lavrada com algum requinte e, por isso motivo de admiração na cidade pobre. Nos primórdios da abastança propiciada pela economia cafeeira, as igrejas e capelas foram sendo demolidas, sem contemplação, e reconstruídas de acordo com um novo conceito de “modernidade” que impunha cânones estéticos alheios à formação e à tradição histórico-cultural do povo. O conjunto das igrejas franciscanas talvez tenha sido o único a ser preservado da febre renovadora. Ainda assim, o velho Convento de São Francisco foi demolido no início da década de trinta, para ser substituído, por estranho que pareça, por um pretenso edifício colonial, sede da Faculdade de Arcadas. Isso, paradoxalmente, se deveu à influência de personalidades que sempre se apresentaram como defensoras da tradição histórica, artística e cultural de São Paulo. Em algumas dezenas de anos, do último quartel do século XIX até aos anos do início da Segunda Grande Guerra, foram demolidas, dentre outras menos importantes, as Igrejas da Misericórdia, de Nossa Senhora do Rosário, do Pátio do Colégio, de São Pedro dos Clérigos, da Sé, de Nossa Senhora dos Remédios, do Recolhimento de Santa Teresa. Foram bastante alteradas as de Santo Antônio e do Carmo; reconstruídas, em novos estilos da moda, a Sé Catedral, a Abadia de São Bento, as igrejas de Santa Ifigênia, da Consolação e do Brás. E, “last but no least”, em concreto armado, e, recentemente, a Igreja do Pátio do Colégio! De quase todas, entretanto, a partir de 1907, Dom Duarte Leopoldo e Silva conseguiu pôr a salvo as peças mais representativas, principalmente as pratas e imagens, recolhendo-as ao que denominou Museu da Cúria. Boa parte, desgraçadamente, aqui como em outras regiões do país, foi parar às mãos dos antiquários e abrigar-se na intimidade das coleções particulares.


Pintura mural jesuítica, século 17.

A cabocla Capela de São Miguel
Prof.Dr. Julio Meiron
A atual edificação, de 1622, é obra de diversos e desconhecidos colaboradores, inclusive muitos indígenas. A Capela de São Miguel é a igreja sobrevivente mais antiga de São Paulo. Pensar sobre esta Capela é nos transportarmos para uma São Paulo dos primórdios, cabocla, a operar fusões entre nativos indígenas e colonizadores europeus. Fruto de esforço coletivo, esta capela surgiu no aldeamento que se estabeleceu na região leste de São Paulo desde a segunda metade do século XVI .
No planalto de Piratininga, na região onde hoje está o centro de São Paulo, o cacique Tibiriçá aliou-se aos colonizadores portugueses. Insatisfeito com esta aliança, um irmão do cacique, o guerreiro Piquerobi, liderou o afastamento de parte dos indígenas para a região então conhecida como Ururaí .
Logo em seguida, o jesuíta Anchieta procurou os índios dissidentes para continuar o processo de catequização. Assim se estabeleceu a junção nativa e cristã que rebatizou o local como São Miguel de Ururaí. Justo São Miguel, anjo guerreiro, com o qual os indígenas deviam ter se identificado.
Fato é que São Paulo era cercada de aldeias, mas o processo de colonização foi extinguindo-as, fazendo com que seus sobreviventes se aglomerassem nos polos restantes, mesmo cristianizados – como o de São Miguel e o de Pinheiros. Isso tornou este dois polos, de certa forma, irmãos, colocando-os nas origens dos bairros mais antigos de São Paulo.
Concentrando-nos em São Miguel, a primeira Capela devia ser muito simples, de paredes de bambu e cobertura de sapé. Só em 1622 construiu-se a igreja que sobreviveu até nossos dias. Esta data está gravada na porta do templo.


As pinturas de Benedito Calixto no Museu de Arte Sacra de São Paulo
Prof. Dr. Dalmo de Oliveira Souza e Silva
Sob o gênero da paisagem ou, melhor dizendo, evocando aspectos da arquitetura religiosa na cidade de São Paulo, temos sete pinturas no acervo do Museu de Arte Sacra que merecem citação, são elas: Recolhimento de Santa Teresa, Antigo Pátio do Colégio, Recolhimento da Luz, Igreja da Sé e Cúria de São Paulo em 1863, Igreja do Brás em 1860, Antigo Seminário da Luz e Capela da Graça. O conjunto dessas telas tornou-se importante documento iconográfico das edificações religiosas da província de São Paulo, na virada do século XIX para o século XX. Esse registro das construções religiosas é uma das ações que nos fazem refletir sobre o papel da pintura de Benedito Calixto na conexão entre Igreja e Estado.
Somem-se ao aspecto documental à seleção das edificações religiosas, comumente, o uso da fotografia nesses trabalhos se fez presente. Há uma série de pinturas de Benedito Calixto que surgiram a partir das fotografias realizadas por Militão Augusto de Azevedo (1837-1905). Algumas telas de Benedito Calixto feitas a partir das fotografias de Militão foram encomendadas por Afonso d'Escragnolle Taunay (1876- 1958), então diretor do recém-criado Museu Paulista (1895) . Segundo Alexandre Eulálio (in MUSEU DE ARTE SACRA, 1987), há, ao menos, duas obras que integram o acervo do Museu de Arte Sacra e que são realizadas a partir das fotos de Militão. São elas: Recolhimento da Luz ou Seminário Episcopal marcado por uma construção monumental, caracteristica de uma arquitetura monástica tão comum no século XIX levada a fotografia  por Militão em 1887 e Igreja do Brás em 1860, tela feita a partir da fotografia de 1862.

Igreja Nossa Senhora do Rosário – Embu das Artes
Percival Tirapeli

A pintura: de difícil conservação tanto nas terras baixas do litoral como nas altas e úmidas da serra acima, as pinturas se perderam na maior parte das capelas ou colégios. Serra acima, na residência de Nossa Senhora do Rosário no antigo aldeamento Bohi (1624), depois M’Boy Mirim, atual Embu das Artes, conservou-se o melhor testemunho de aldeamento paulista dos padres jesuítas. 
Os motivos pictóricos contidos no forro de caixotões da sacristia do Embu são pinturas alusivas à Paixão de Cristo. Pequenas paisagens emolduradas contendo os símbolos da paixão: o cálice em uma paisagens com o céu se abrindo na parte superior (com triplo sentido, da ceia, da amargura no Monte das Oliveiras e com o sangue escorrido na crucificação ou ainda da redenção pois há uma aurora e pássaros (alma) voando; a palma  (da entrada em Jerusalém); a lança, que o soldado O mata e esponja com água); os três cravos que O pregam na cruz; e a face ensanguentada no manto da Verônica; a coluna da flagelação com uma paisagem de cidade ao fundo; os flagelos amarrados com uma espécie de ramos de vegetal (talvez o cetro) com uma paisagem com ciprestes a esquerda (morte) e árvores a direita (da vida); e uma luva de soldado com paisagem (Monte das Oliveiras e Jerusalém) e seria a prisão. Os símbolos estão emoldurados por linhas ovaladas, e de suas extremidades saem aos pares cabeças de anjos e plumas avermelhadas encimadas por outras cabeças de anjos com enfeites emplumados e outros geometrizados.  Nos espaços entre as molduras determinados pelas pinhas e folhas de acanto há um ramo contínuo do qual saem variáveis formas de flores.




Igreja do Imaculado Coração de Maria
Prof. Dr. Nilson Ghirardello
A construção do templo do Imaculado Coração de Maria ocorreu em um momento em que a Igreja Católica, diferentemente de como havia se dado durante a Colônia e também no Império, buscava novas fontes de recursos, agora não mais advindos do Estado laico recém implantado. É um momento onde Estado e Igreja estavam formalmente separados devido a Constituição de 1891, e deve-se acrescentar que a Velha República possuía um quadro político de alto escalão totalmente anticlerical. Dessa forma a Igreja precisava redirecionar seus esforços no sentido de buscar fundos entre seus fiéis, em particular entre os de posses. Na placa de mármore assentada em sua inauguração no pórtico, informa-se que o custo de sua construção foi de 320 contos de reis, sendo 250 contos aplicados pela  Diocese e restante coberto pelos fiéis.
Como forma de atrair seguidores de alta classe, moradores do bairro e do aristocrático Higienópolis, a igreja primará pela monumentalidade e luxo decorativo. Há absoluta coerência entre o templo e sua vizinhança abastada.  O espaço sacro refletia fielmente a decoração dos grandes palacetes com seu ar soturno, pinturas murais, pisos ornamentados, acortinados pesados e mobiliário carregado. Com efeito o templo possui um tom sombrio, reforçado pela temática pictórica religiosa, bastante colorida e carregada de exemplos edificantes, piedade, culpa e sofrimento. Em ambos os casos rezava uma norma clássica do ecletismo convencional: o horror pelo vazio. As poucas aberturas encontram-se na zona superior do templo, incluindo-se na base da cúpula; a luz natural, portanto, é amainada no interior provocando uma certa sensação de introspecção e isolamento do mundo exterior.