Neo-renascimento no Sagrado Coração de Jesus e a contemporaneidade de Bonomi em Pinheiros
Santuário do Sagrado
Coração de Jesus (1881 – 1901)
Waldir Salvadore
Alfredo Moreira Pinto, em texto originalmente publicado em
08 de abril de 1898 no Correio Paulistano, fez do Santuário do Sagrado Coração
de Jesus esta fidedigna e entusiasmada descrição:
“É um vasto templo do
estilo Renascença com três portas de entrada e três janelas, tendo em cima a
torre, atualmente com 56 metros de altura, mas que deverá ficar com um 64
metros, quando se colocar no ápice a estátua do Coração de Jesus. Na torre
ficam quatro anjos embocando quatro trombetas, representando o juízo final,
abaixo cinco sinos e abaixo destes um relógio de mecanismo duplo. Aos lados
estão as estátuas de Santo Agostinho e de São Francisco de Sales. O interior é
de uma magnificência extraordinária, de uma imponência grandiosa e de uma
riqueza excepcional: tem o aspecto de uma catedral. Possui belas e ricas
pinturas no teto do corpo da igreja e na cúpula do presbitério; naquele há a
aparição do Salvador à bem-aventurada Maria Alacoque e, nesta, Nosso Senhor
Jesus Cristo Crucificado. O altar-mor é todo de mármore de Turim e foi
oferecido por D. Veridiana Prado. Nele ficam uma imagem do Coração de Jesus e,
aos lados, dois quadros: um representando a aparição de Nosso Senhor Jesus
Cristo e dois de seus discípulos a Emaús e outro o nascimento de Jesus. O
altar-mor está assentado acima de uma cripta subterrânea com um altar de
mármore, da maior riqueza e do maior gosto artístico. No corpo da igreja há
três naves, uma central e duas laterais separadas daquela por oito colunas de
cada lado, fingindo mármore. (…) Não sofre confronto com muito outros templos
de S. Paulo.” (Pinto, 1900, p.44)
Igreja Mãe do Salvador (Cruz Torta): história, arquitetura e arte.
Pesquisadora Dra. Alecsandra Matias de Oliveira
O painel Ascensão era a primeira iniciativa de Maria Bonomi voltada aos murais. O percurso estético da artista envolveu a construção de painéis de 1976, com a concepção de Ascensão até 2006, quando Maria Bonomi iniciou, no Memorial da América Latina, a instalação Etnias - do primeiro e sempre Brasil. Hoje, a artista ainda tem diversos projetos de murais que estão em vias de desenvolvimento[1]. De certo modo, seus painéis nasceram de suas grandes gravuras e deram condições ao projeto de arte pública organizado pela artista e presente em sua obra até os dias atuais. Seus murais costumam sensibilizar pelo registro histórico e afetivo: cada um deles tem sua história particular, sua mensagem e, acima de tudo, são motivados por fatos caros à comunidade que os abriga. Para a confecção do Ascensão, Maria Bonomi tinha um grande desafio técnico, arquitetônico e temático.
Tecnicamente, o painel foi inteiramente executado com os materiais disponíveis na construção civil – tendo o concreto como base – e realizado pela mão-de-obra operária. Os métodos e os materiais recorreram a uma experiência anterior da artista: o Espaçovivo, realizado, em 1973, num edifício em construção na Rua Caiowaá, 2.251, Sumaré. O projeto, idealizado por Maria Bonomi e iniciado por Nicolas Vlavianos, transformou o saguão do prédio em estúdio transitório, onde o artista executou uma obra em processo aberto ao público, rodeado pelos operários e com o emprego dos recursos disponíveis naquela construção.